Marcelo Dutra da Silva

Pelotas: balanço ambiental de 2022

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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Terminei o último ano desejando que 2022 fosse um ano de mais diálogo e diplomacia. O ano passou e nem tudo saiu como esperado. É bem verdade que avançamos nas iniciativas, mas continuamos falhos e sem resultado. Somos o maior inimigo de nós mesmos. Não sabemos reunir e nem conversar. Falta união, desejo, espírito de grupo, vontade... Falta propósito. O que mais temos são grupos variados, que se excluem uns aos outros, enquanto nossa permanente disputa por espaço acaba destruindo toda e qualquer possibilidade de um trabalho produtivo. Sim, Pelotas é uma cidade bastante difícil.

A melhor experiência de construção deste ano aconteceu na Câmara Municipal de Vereadores, no Junho Verde, em alusão ao mês em que comemoramos o dia do meio ambiente (6/jun). A proposta era interessante e nela depositei expectativas. Elegemos um tema gerador (Faixas de Exclusão de Agrotóxicos) e definimos uma data para apresentações. Mas a coisa descambou no transcorrer do período. Desconfiei que algo não estava funcionando bem quando percebi que diversos vereadores não haviam sido convidados pela presidência para participar da abertura. Na sequência, eventos não programados foram incluídos e o combinado não valia mais. Foi um fiasco!

O evento que se passou na Câmara não foi a primeira tentativa de levantar o debate sobre as questões ambientais, mas sem dúvida foi um dos mais frustrantes. Não há espaço para meio ambiente na Casa do Povo. É um assunto espinhoso para muitos e a maioria dos nossos representantes sequer tem interesse neste debate. E fica difícil avançar na discussão sobre estratégias de desenvolvimento se um dos pilares da sustentabilidade é, simplesmente, ignorado pelas lideranças eleitas da nossa cidade.

Por outro lado, o diálogo melhorou na Secretaria de Qualidade Ambiental. Passamos por um ano conturbado, mas em todas as oportunidades que tive de conversar com o secretário Eduardo Schaeffer percebi sua vontade de melhorar os processos e qualificar os serviços prestados pela Secretaria. É notável sua dedicação à questão arbórea. Avançaram na supressão de árvores em situação de risco e vêm trabalhando pela reposição arbórea em ruas, avenidas e espaços públicos. Também, existem planos de fortalecer a Educação Ambiental, mas o recurso curto ainda tem impedido a realização de ações mais efetivas de fiscalização e controle.

Entretanto, se melhorou na SQA, no Sanep, nada mudou. O serviço de saneamento permanece caótico. A água não é segura, com a presença de químicos de lavoura e ainda pode faltar nos momentos de estiagem. Também há severas deficiências no tratamento de esgoto e o sistema de drenagem, além de sujo e limitado, continua conduzindo o esgoto não tratado em direção aos corpos hídricos que nos rodeiam. Um cenário perigoso e malcheiroso que ameaça nossa saúde, economia e qualidade de vida.

Fato é que as questões ambientais de Pelotas são históricas e nunca teve muito espaço na nossa forma de fazer política e quase sempre colocadas em segundo plano. Meio ambiente não pesa nas decisões de governo, mas isso está prestes a mudar. O debate sobre boas práticas está crescendo, sobretudo a responsabilidade na gestão pública (governança). Sinto que 2023 poderá ser diferente nesta direção, com mais atenção às políticas socioambientais e formação de novas parcerias entre o público e o privado. Será o ano dourado do ESG (Environmental, Social and corporate Governance) e precisamos saber tirar o melhor proveito disso.

Tenham todos um Feliz Ano Novo!​

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